Se juntarmos 3 publicações – Estado de Minas, Folha de São Paulo e Revista Veja teremos uma amostra completa da mediocridade, do reacionarismo e impunidade ética, de jornalismo chulo e demais adjetivos afins. Porque esta afirmação se bons entendedores já sabem? Porque não eram assim! Ou melhor, eram assim mas não eram tanto assim e acho que participei, em parte, destes momentos de virada geral de folha e também da Folha. Houve um período no Brasil que a arquitetura, sempre em impasses homéricos, sejam financeiros, conceituais, urbanos, representativos, autorais ou mesmo criativos, permitiu que eu, Éolo e Jô, dentre outros, pudéssemos projetar sem sermos observados pelos modernistas dogmáticos de plantão e botar na rua coisas a discutir, texto, projetos e algumas obras e dentre elas a Casa do Bispo de Mariana, pomposamente chamada de Casa Arquiepiscopal como deve ser.
Neste período fomos focalizados duas vezes pela Veja (Folha e Estado de Minas um pouco mais) uma com capa de Antonio Ermirio de Morais (março de 1986) com o simpático título de Espaços Sedutores, relativamente bem escrita mesmo com vários erros dentre eles uma citação do Ministro Portela que acabou na minha boca. Também alguns moradores da cidade de Rio Verde ficaram com raiva da citação “pacata cidade” junto a foto da Rio Clínica.
Ali na página na 116 o lançamento comentado de RAN do Kusosawa junto a uma publicidade com Jorge Amado tentando vender Tocaia Grande e recomendando Cem Anos de Solidão. Mais a frente, na seção Ponto de Vista, o tal de Fernando Notari cai de pau no chefão da CNBB, Dom Ivo e ao lado, Leonel Brizola lançando os Ciep”s.
Noutra revista, agora em junho de 1988, capa com o físico Stephen Hawking e uma chamada no alto, a esquerda que dizia _ A grande trapalhada – Sarney em Nova Yorque (gente, o cara não vai embora!) e ao lado, Delfim Neto como o comandante da economia no regime militar (bom para a gente não esquecer) era o página amarela da semana. Lá dentro, nesta do Stephen ainda podemos destacar na página 32 os militares de alta patente tirando o seu da reta e tentando sacanear os marinheiros na formatação da nova Constituinte, ao lado uma homenagem aos 80 anos da imigração japonesa.
Na página 40 Cavaco Silva, primeiro ministro português chamando os brasucas para investir no seu país e mais a frente, página 108, o lançamento de Adeus Meninos do Malle.
Muita coisa, boas e más, mas muitas. Mas o que interessa é que estávamos ali nas páginas 106/107 numa matéria intitulada Lar extravagante, seção arquitetura, coisa rara na revista e até hoje onde o repórter, pobre coitado, falava tanta besteira, era tanta desinformação – nunca pedimos a nenhum repórter para ser sempre cordial e amigo em suas/nossas entrevistas- mas era tanta burrice que me fez pensar: Se para escrever sobre algo como uma casa em Mariana o cara comete tantos erros e a revista que se diz Veja publica -não nos deu o direito de réplica- imagine uma matéria sobre economia (que pode vir a cutucar a bolsa de valores), sobre política nacional ou internacional (que pode vir a fortalecer as opiniões reacionárias), sobre crimes (que pode prejulgar inocentes) ou sobre qualquer coisa, alimentação/regime, doenças e outras materinhas de capa inseridas quando não existe nenhum grande desastre ou guerras ou… Não consigo acreditar em uma revista desta. Estou livre então, mas gente que acredita tem de montão e pode fazer deste país um país outra vez burro mesmo com capas de Stephen ou matérias de Malle e Kurosawa.
Respondemos a este cara e também aos outros num jornal que publicávamos sobre o escritório.(ver primeira imagem do texto). Tempos depois a tal casa do Bispo foi citada como uma das obras mais representativas para se entender a arquitetura brasileira. Ainda bem que não foi na Veja!
Tudo bem Revista Projeto?