Ensinando a bordar
Eu não sabia que aqueles círculos que prendiam panos para as bordadeiras realizarem seus trabalhos chamavam-se bastidores para bordar que nada mais é do que um caixilho de madeira, de formas variadas, no qual se prende e se estica o tecido sobre o qual se borda, pinta etc. segundo o dicionário que diz também ser tudo o que acontece por traz das câmeras, palco, cenário, todo trabalho que é feito antes e depois de alguma apresentação, pessoas que trabalham para algum acontecimento, mas que não são filmadas e é ai que me encaixo.
São dois momentos: um quando desenho, algo meio clássico, parecido com o que estou vendo (bastidor segunda versão) e dois quando a Gaby entra com suas pinceladas e cobre o que fiz com seu olhar pessoal, utilizando o caixilho, no caso redondo, como suporte mas também como delimitador, recorte do desenho inicial.
Começamos com esquinas, esquinas de BH pelo simples mais curioso fato de que boa parte das esquinas mais antigas da cidade encontram-se mais ou menos preservadas, talvez pela sua inapropriada ocupação pois necessita afastamentos em todos seus alinhamentos ou, pelo meu esdrúxulo pensamento de achar que os donos de esquinas são preocupados em preservar o que foi a história dos seus antepassados ou do seu tempo ou pior, não conseguiram vender junto com o lote lindeiro e aí perderam a chance de venda conjunta desvalorizando seu imóvel. Só o que sei é que encontrei muitas esquinas pelo Centro, Floresta, Savassi, Lourdes, Funcionários, Santa Efigênia e sei que tem muito mais, toda hora passo por uma.
Desenho sobre tecido, linho tingido de diversas cores o que diferencia inicialmente de outros bordados quase sempre sobre linho branco ou cru. Caneta preta do tipo marcador permanente fornece traços meio borrados e pouco definidos mas decididos e únicos. Cada desenho é único e fica mais único depois de cobertos pelas linhas coloridas.
O que me surpreende é esta liberdade vangoguiana de escolher e mudar cores, mexer nas espessura de linhas, compor perspectivas desconjuntadas e são destes componentes que o desenho, agora com bordas suprimidas pelo arredondado do chassis, toma outra dimensão. Vejam por exemplo a luz impressionista do prédio do Museu da Moda na Rua da Bahia com Augusto de Lima, do Castelinho da Espírito Santo com Afonso Pena e da esquina de Pernambuco com Rua dos Inconfidentes;
outra hora o fundo se funde à cor da construção representada, uma monocromia deliciosa que se junta com a bagunça dos fios, placas e outros elementos do urbano como na esquina de São Paulo com Avenida Santos Dumont ou o Bar do Bolão em Santa Tereza;
e são estes elementos e principalmente fios, estes famigerados elementos que ajudam a compor estás nossas feiuras urbanas que aqui, no Bar do Orlando em Santa Tereza ou na esquina de Espírito Santo com Bias Fortes atingem status de arte, traços rápidos que cruzam o espaço frente aos prédios.
Rua Espírito Santo com Avenida Brasil, Avenida Amazonas com Rua dos Caetés; Sergipe com Santa Rita Durão e versões da esquina da Rua Sapucaí com Avenida Assis Chateubriand.
Alguns são endereços conhecidos, outros conhecidos mas não percebidos e outros totalmente esquecidos. Mas assim é o olhar de quem procura, anda por aí com olhos atentos. A próxima parada é meio óbvia, Praça da Liberdade com uma olhada para a esquina onde se localiza o Minas I, Rua da Bahia.
Esta pequena viagem começou com ilustração que fiz para uma crônica do amigo Mário Pontes, publicada no Cometa Itabirano, sobre a esquina de Santo Antonio do Monte com São Domingos do Prata onde morava o compadre Carlos Alenquer filho adotivo, pelo ramo jornalístico, do Mario. A Gaby bordou e ficou lindo. Fomos em frente.