CRMMG Conselho Regional DE Medicina de Minas Gerais

ARQUITETOS SYLVIO EMRICH DE PODESTÁ ; MATEUS MOREIRA PONTES

EDITOR DE TEXTO CARLOS ALENQUER

LOCALIZAÇÃO BELO HORIZONTE, MG

ÁREA DO TERRENO 2632,50 M2

ÁREA DO PROJETO 6.873,00 M2

Nada mais importante na arquitetura, entendida como inserção urbana, do que a relação entre o caminho e a praça, itinerância e radiância, horizontal e vertical, terra e céu, animadores da nossa capacidade de transcender o plano moral e pragmático.
Nas grandes densidades urbanas perdeu-se a transcendência –e com ela, o vazio.
Exemplo melhor dessa capacidade de relacionar itinerância e radiância –ou sua perda– é o conjunto Sulacap/Sudameris, em Belo Horizonte (Roberto Campello, 1941) que, com suas torres, conformava a antiga praça dos Correios, compunha um pórtico simétrico que enquadrava o viaduto Santa Tereza e, mais ainda, integrava visualmente o bairro da Floresta ao Centro, num diálogo sedutor entre o centro projetado e o novo bairro que se consolidava.

É observando este aprendizado de recato e generosidade que projetamos nosso prédio. Implantado a partir de um ângulo de 22º, de uma visada da esquina do terreno nosso olhar encontra, por sobre o vale, a igreja de Santa Tereza, marco definidor do bairro e de suas características. Ali, enquadrada por um pórtico de 21,5m de altura por 19,0m de largura, a igreja é configurada a partir de uma praça levemente elevada em relação à rua, acessada por uma rampa que, ao ser percorrida, faz surgir toda a encosta do bairro, abraçando-o na perspectiva do seu pórtico.
Com essa atitude de diálogo direto com seu ilustre vizinho, pretendemos ampliar a visibilidade e presença do Conselho na vida da cidade, que além desse caráter único e individual passa a participar ativamente da cena urbana, trazendo consigo uma forte identidade visual, logomarca da presença pública da instituição.

“Teu prédio é igual a mulher bonita.
Quanto mais se vê, mais bela fica.”

Na procura desse enquadramento, o edifício gira sobre a ortogonalidade básica do terreno, liberando grandes espaços verdes em cota inferior. Por sua própria concepção, não se aproxima agressivamente das pequenas construções vizinhas com sua atual informalidade, permite acesso universal à praça, foyer, auditório e restaurante ligado a pequeno estacionamento anexo, com acesso direto pela rua Pacífico Mascarenhas.
Toda essa procura formal/urbana não teria suporte prático se não permitisse também o maior acesso possível à iluminação natural (inclusive no auditório, quando desejável), controle fácil e efetivo sobre a insolação, com possibilidades reais de tratamentos bioclimáticos, diminuição radical de carga térmica e isolamento acústico das vias de maior tráfego.

Os estudos de caráter climático feitos a partir de mapas geoprocessados (Prodabel) e dos solstícios de inverno e verão e equinócio confirmam esta certeza técnica, que se agrupa à opção vertical do edifício com vazios intermediários, resultando daí uma proposta na qual se lê claramente na composição, as áreas públicas e de uso restrito da instituição, fisicamente representadas pelos volumes resultantes.
Essa resultante contraria a estética do vidro e da transparência, inadequada ao nosso clima, que ainda faz a exígua materialidade das arestas desaparecer, fazendo com isso o edifício perder a nitidez de seus contornos e dos seus elementos construtivos (vigas, pilares, brises, lajes). É uma estética que produz prédios descomprometidos e assépticos, incapazes de oferecer limites, enquadramentos e propósitos claros que o olhar sempre requer.

O jardim, alto, entre o 3º e o 5º pavimentos, sugere uma elevação do terreno natural original, transpondo-o para cima, ampliando a oferta de verde já conquistada na exuberância dos jardins inferiores.
Uma grande platibanda superior unifica os equipamentos e serviços da última laje; junto ao volume do auditório, configura a 5ª fachada, com um tratamento adequado das coberturas, tão necessária quanto as vistas consagradas, o que permite o deleite da visão de cima, tal como os telhados coloniais, imagem que deleita nosso olhar mirante.

Recorrer a metáforas, símbolos e elementos novos, se por um lado torna complexa a criação arquitetônica, por outro simplifica o entendimento da combinação dos volumes decompostos em partes individualizadas; na verdade, estes retornam às formas vernaculares e lúdicas e fazem reaparecer os cheios – em contrapartida às transparências sem janelas, formatando assim novos palcos e objetos cênicos vitalizadores dos cenários da cidade.
Programaticamente, os espaços se posicionam semelhantes ao fluxograma da instituição, ora priorizando, ora restringindo o acesso, de forma e tornar latente, nestes diversos acessos, as funções específicas procuradas, permitindo mesmo controles rígidos em busca da segurança necessária.

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