* Menção Honrosa no 3o. Prêmio Usiminas Arquitetura em Aço
Arquitetos: Sylvio E. de Podestá e Mateus Pontes
Local: Belo Horizonte, MG | Data: 2000
Área terreno: 3.388,89 m2 | Área: 5.100,00 m2
Consulta: Manual para o Design Bioclimático de Ângela Negromonte Scheibe
Ao projetarmos um edifício como este, a sua inserção urbana, implantação, funcionabilidade, programa, legislação urbana, conforto ambiental, aspectos construtivos, econômicos e flexibilidade devem se juntam à expressividade, criatividade e contextualidade, além de temporalidade, clareza, etc.
Este tipo de projeto, mais do que outro, deve deixar explicitada sua relação com a cidade, sua melhor forma de inserção, onde a existência da arquitetura deve provocar o pensar, o discutir, representar sua época, sua história, fabricar seu patrimônio histórico, ser exemplo iconográfico. Deve carregar velhas e novas informações sugestionando as inserções vizinhas e mais, sugestionar a qualificação da sua própria atividade final.
Um edifício bioclimático (do Manual para o Design Bioclimático)
Dividido basicamente em 3 tipos de clima: Aw, clima quente com uma estação seca perfeitamente definida (norte de Minas); Cwb, clima tropical de altitude ou mesotérmico, com verões brandos e chuvosos (centro-sul) e Cwa, mesotérmico, com verões quentes e chuvosos, com variações anuais de temperatura mais assentada (região central), o Cwa clima majoritário no estado, tem dupla personalidade, apresentando condições adversas, exigindo proteção dos espaços internos e total divórcio das condições externas.
Para Belo Horizonte que tem pequena variação anual de temperatura, podemos integrar ambientes externos com internos desde que conheçamos:
1. Ventilação: onde a ventilação para resfriamento ideal é 7,5 km/h; a velocidade máxima para vento não voar papel é de 1,9 km/h; velocidade média do vento em BH é de 12,0 km/h de onde se conclui que a ventilação deve ser controlada dentro dos ambientes e induzida em nível da estrutura do prédio.
Como fatores negativos a serem cuidados: sol forte, irradiação dos materiais construtivos e de revestimentos (principalmente cobertura), sendo necessário proteger totalmente o interior do sol; poucos ventos, calmaria, especialmente no verão, com umidade relativa alta e sem ventilação, tornando-se difícil resfriar o ambiente; vento Sudeste desconfortável na época de frio e fatores positivos: céu claro no período mais frio permite insolação abundante; céu encoberto e chuvas aliviam temperatura e reduzem os efeitos do sol no verão.
A análise destes fatores, estabelecem alguns porcentuais anuais e devem adotadas como parâmetros. Condições externas: 67% quente demais, 25% confortável e 8% frio demais. Condições internas: 20% quente demais e com ausência de vento, 80% confortável e 0% frio demais.
Em vista destas porcentagens, usar espaços abertos, integrando exterior e interior como terraços cobertos, varandas, painéis operáveis nas fachadas,; construções tipo pavilhionar com espaços internos abertos, protegidos do sol e da chuva; salas para Sul, protegendo as fachadas Norte com varandas; vegetação bloqueando o sol oeste (uso da vegetação existente favorece nossa fachada oeste); brises horizontais e verticais evitando a incidência direta do sol; coberturas impermeáveis ao calor (isolantes termoacústicos); superfícies exteriores claras e reflexivas; ventilação cruzada e, se possível, entreforros; painéis de vedação de materiais isolantes térmicos; posicionar ambientes intermediários entre o exterior e os ambientes de longa permanência; promover a ventilação (controlada), dimensionando saídas e entradas de ar; promover saídas de ar nas partes mais alta da cobertura; possibilitar ventilação noturna permanente.
2. Iluminação: fator que requer muito cuidado em edifícios institucionais, pois representam de 20 a 30% da energia consumida e da carga de calor produzida, portanto é fundamental seu bom dimensionamento, utilização maior possível da iluminação natural, fornecendo luz sem aumento da carga de calor.
O dimensionamento da iluminação artificial deve respeitar a necessidade de cada ambiente.
No caso da iluminação natural, a orientação Norte é quem mais recebe luz, necessitando de brises de controle desta radiação direta. Deve-se aumentar a reflexibilidade interna dos materiais de vedação, orientar mobiliário, utilizar de brises orientados para que possam servir de refletor.
3. Materiais: conhecer as características dos materiais no que diz respeito a seu aspecto, custo, durabilidade, aplicação, cuidados, etc.
Adotamos painéis de vidro com esquadrias de alumínio com brises móveis agregados e dimensionados para as áreas de maior insolação direta e que necessitavam de luz e ventilação controlada, painéis de vedação termicamente tratados para as áreas vedadas, além do grande brise curvo Sudoeste, coberturas metálicas termoacústicas e lajes planas com seixos e argila expandida que dão ao edifício poder de controle sobre o sol e chuva, calor e luminosidade, além de proporcionar sensação de conjunto, refletindo a intenção esperada. Refletem também a sensação de durabilidade arquitetônica, cuidado construtivo e tecnológico melhor aproveitamento das condições do terreno, das suas perspectivas climáticas e visuais.
4. Condições de habitabilidade: as condições do meio ambiente e as do trabalho refletem a atitude da instituição com relação a seus funcionários. Embora seja um meio silencioso de comunicação e pouco percebido, é fortemente sentido por todos que estão envolvidos nas circunstâncias existentes.
Condições e ambientes de trabalho bem planejados e bem construídos além de bem administrados, serão aceitos pelos usuários por aquilo que representam, ou seja, além da evidência de que a instituição se preocupa e zela por seus funcionários e usuários, estabelece um referencial ambiental e construtivo se fortificando enquanto instituição, serviços e forma de antever resultados futuros nos investimentos realizados agora.
5. Energias alternativas: a possibilidade do uso alternativo de energias solares como painéis térmicos e painéis fotovoltaicos está garantida pela grande cobertura (720,00 m2) inclinada no sentido Nordeste, aproveitando as condições ideais de Belo Horizonte como cidade de grande luminosidade anual, podendo com este edifício, suprir, consideravelmente, a demanda de energia calorífica e de iluminação artificial de áreas que não necessitem de demanda específica ou especial.
Este tipo de postura institucional amplia a possibilidade de adoção (didaticamente falando) deste tipo de energia em grande (outras instituições) e pequena escala (habitações).
6. Ventilação e ar condicionado: Estabelecida às condições bioclimáticas do edifício, a adoção de sistemas de ventilação e/ou ar condicionado poderão ser minimizadas e/ou parcialmente utilizadas ou, em algumas situações, praticamente eliminadas.
Ambientes como Hall Principal, Foyer, Protocolo 1 e 2, área geral de serviços/cantina, etc., pode-se utilizar um sistema de troca de calor em porcentagens devidamente dimensionadas, podendo inclusive resfriar ou aquecer estes ambientes pela forma de captação do ar de troca e pela velocidade de troca do ar destes ambientes.
O uso mecanizado para resfriamento/aquecimento e ventilação poderia ser utilizado preferencialmente no auditório e em área de trabalho que demandem clima artificializado ou por sua localização na planta do edifício ou por sua especificidade.
É possível climatizar todo o edifício, mas é também possível tornar o edifício completamente saudável utilizando os princípios bioclimáticos e alternativos.
7. Método construtivo: a utilização de um método construtivo industrializado exige o uso diversificado de tecnologias e a sua correta aplicabilidade. Um sistema que permita a total industrialização da construção do edifício foi a opção adotada.
A estrutura macro é constituída de perfis metálicos tipo “I” em módulos de 7,5×7,5 metros, travados por núcleos resistentes aos esforços horizontais, lajes formadas por painéis pré-moldados e conectores de cisalhamento e/ou painéis tipo steel deck, concretados in loco também com conectores.
As vedações externas são feitas em painéis pré-moldados e termoacústicos de concreto e/ou cimentícios e/ou de concreto celular para fechamentos opacos e painéis metálicos de alumínio e vidro, com sistemas de aberturas e brises operáveis agregados.
Conclusão
A Usiminas, unindo-se a parceiros como a COHAB/MG no sentido de promover o uso do aço, diversificando seu uso, transforma esta utilização em material didático, oferecendo visibilidade deste processo múltiplo (este tipo de abordagem construtivas deve ser sempre vista como um sistema completo) aos seus muitos usuários e funcionários e também ao grande fluxo de pessoas em circulação gerados pela via expressa e metrô vizinhos.
Também, de maneira intrínseca, este edifício deve ser, neste vazio urbano gerado pela abertura da via expressa e metrô, um indutor de recuperação e reurbanização desta área.
Por isso não basta sua eficiência programática, mas sim agregá-lo de valores outros necessários a transformá-lo em arquitetura.