Arquiteto: Sylvio E. de Podestá
Local: Goiânia, GO
Projeto: 1989
Área: 225,00 m2
Programa de Necessidades
“O Instituto de Arquitetos do Brasil/Departamento de Goiás, ao longo de duas décadas, tem lutado com todas as dificuldades que se possa imaginar, para honrar os ideais dessa entidade. Nascido quando o País passava pelo bárbaro período de um regime de exceção, que desarticulou todo e qualquer movimento que propugnasse os ideais de uma vida mais digna, mais justa e igualitária para a sociedade nacional, atravessou nestes vinte anos, todos os problemas como a maioria das entidades. Desde as dificuldades para se reunir, sob as sombras do medo de quem avoca os riscos da perseguição político-ideológico, ao reaprendizado do exercício da democracia, quando os primeiros ventos da abertura política sopraram; dos seus conflitos internos, à sua debilidade financeira.
Apesar de tudo isso, ou, por isso mesmo, sobrevivera o IAB.
Como muitos outros Departamentos, IAB-GO nasceu junto à Universidade, é que não podemos dizer, através dela. Em nenhum momento, no entanto, este fato representou tutela aos nossos atos. Foi o amparo de uma instituição comprometida e identificada com os mesmos princípios que sempre nortearam nossas ações. A partir dos últimos anos, uma tese tem motivado exacerbadas discussões – algumas vezes no calor delas, até mesmo a substituição das coisas principais por outras acessórias a tese da casa própria,
Ao que parece a maioridade dos 21 anos, começou por trazer ao debate as aflições de nossos associados, quanto às perspectivas do próprio IAB. Esta preocupação pela casa própria, por um lado, mostra a necessidade que nossos associados tem em assegurar a conquista de um espaço próprio. Espaço que a categoria dos Arquitetos, viu ser aviltado por uma legislação profissional acompanhada de um sistema fiscalizador dela decorrente, autoritários e distorcidos.
A luta por esse espaço próprio, deve em nosso entender buscar o encontro de caminhos alternativos e não, um desvio de direção de nossos princípios e objetivos. A sustentação financeira poderá ser auxiliada por fontes de renda advindas de atividades desenvolvidas neste espaço próprio, porém, é sempre bom lembrar que o IAB não é uma empresa. Portanto, é importante termos com clareza, que se o IAB-GO levou 21 anos para adquirir com recursos próprios um lote urbano, devemos também considerar as inúmeras dificuldades que teremos de enfrentar para executar o projeto vencedor.
Quanto ao programa de necessidades objetivamos aquilo que em nosso entender seria o estritamente necessário.
Desde a sua fundação o IAB-GO não ocupou nada além que uma sala com área aproximada de 25,00 m2, além de ter sempre contado com o uso do auditório e outros espaços da própria Universidade.
Assim estabelecemos o seguinte programa: secretaria (12,00m2), diretoria (12,00m2), reuniões (36,00m2), biblioteca (24,00m2), sanitário masculino (6,00m2), sanitário feminino (6,00m2), auditório (60,00m2), copa (12,00m2), espaço livre de uso múltiplo (circulação, atividades culturais e sociais (57,00m2), num total de 225,00 m2.”
Obs: Texto retirado do Edital.
Introdução
Projetar a nossa própria casa traz dificuldades nunca imaginadas. Temos o domínio total das necessidades físicas, do custo, do local, mas enquanto profissional de arquitetura, este é um desafio fantástico.
O IAB é nossa casa profissional, onde estamos ligados emocionalmente e sabemos de todas as suas dificuldades e só com muita luta se faz o percurso 25,00m2/lote/Sede. É também fundamental que mesmo depois de longa espera, a conquista da casa/Sede seja feita dentro de um pensamento arquitetônico que venha registrar este acontecimento, inclusive historicamente, junto ao pensamento da época desta conquista, ou seja, o projeto/obra deve retratar o atual momento da arquitetura no Brasil e no mundo enquanto processo científico, artístico, etc. Dentro desta filosofia concebemos nosso projeto.
Sobre o Projeto
Terreno de difícil solução física e legal, das relações com um futuro entorno edificado e não edificado, com áreas verdes próximas e solo geologicamente ruim, nos levaram a projetar níveis de uso múltiplo, com acessos possíveis e fáceis inclusive para deficientes físicos e que possibilitassem seu uso mesmo antes do término da obra.
Como?
Com um auditório em arquibancadas com boa visibilidade que independe de poltronas ou quaisquer outros elementos para ser utilizado plenamente; um salão de múltiplo uso, também em níveis, com “leitura” total do espaço pelo olhar ligeiro ou longo do observador; com a possibilidade de uso simultâneo do auditório e do uso múltiplo, por uma ou outras das funções, através de sua interligação por painéis acústicos deslizantes; sub-solo gerado pelos espaços em níveis, com mínimo desaterro, é um terceiro e grande espaço para outras manifestações do novo IAB; espaço administrativo livre, passível de remanejamento; possibilidade da divisão do auditório em dois mini-auditórios através de divisória sanfonada e acústica para o uso de pequenos grupos de estudo e outras atividades; estrutura convencional de concreto com cobertura de telhas planas, sem madeiramento ou qualquer outra complicação onerosa; acessos e aberturas com perfeita insolação; vedações externas em alvenaria convencional; uso de pequenas estruturas metálicas leves marquises e escada em contraponto às massas de alvenarias e finalmente, uma obra de custo razoável, de rápido e fácil uso e historicamente bem concebido.
O projeto
Uma grande diagonal separa e estrutura a futura Sede. Dali temos, à esquerda, o auditório e, à direita o espaço de uso múltiplo. É geradora da circulação superior e leitura estrutural no sub-solo.
Uma divisa reta e plana com a futura área de preservação do Córrego Botafogo e, pelo outro lado, uma curva suave conduz o prédio para a esquina. As duas, retas e curvas, protegendo o interior das insolações mais fortes, dão leitura às suas funções além de compor um agradável conjunto final. Pequenos desníveis entre planos e/ou arquibancadas geram espaços internos de pé direitos diferenciados e ricos. A calma do último nível é para o trabalho, reuniões, boletins e informações.
Como construir
Construirão esta Sede como se constroem todos os IABs do Brasil: com a ajuda de todos e um bom trabalho de marketing, mesmo que não queiram os puristas. São necessários os projetos complementares, contribuições em dia, doações. O marketing, com a certeza que o uso da nova Sede será intenso e salutar, será usado para divulgá-la e, através de grandes, médias e pequenas empresas de arquitetura, engenharia, materiais de construção, design e móveis, conseguiremos os materiais e complementos de que a nova Sede necessitará para ser saudável, dinâmica, profissional e confortável, com a certeza que as colaborações terão seu retorno esperado.
Esta aqui nossa contribuição: um pequeno projeto, imenso nas suas responsabilidades e funções futuras. Uma conquista para ser rápida e duradoura. Acreditamos que poderá ser feita mantendo uma visão crítica da realidade brasileira e, especificamente, da realidade dos nossos IABs.