Local: Bosque da Ribeira, Nova Lima, MG.
Projeto: 1985
Obra: 1986/87
Área: 240,00 m2
Área após a 1a. reforma (1996): 290,00 m2
Do ponto de vista ou da relação arquiteto usuário, residências são projetos que traduzem a menor aproximação entre o que se pretende e o que se projeta; entre sonhos físicos, sonhos e sua realização. A análise destes é feita cara a cara; sabe-se das finanças, das pessoas, sabe-se do construtor, do local e de todos os itens com uma particularidade imensa se comparada a projetos onde os futuros usuários são transitórios, estatísticos, provisórios.
Esta relação faz destes pequenos projetos laboratórios de quase todas as matérias das quais a arquitetura trata ou lança mão para se completar.
A Residência João e Letícia é um destes casos. Começou com a escolha minuciosa do terreno, da mata com um pequeno riacho no fundo.
O programa não era rígido. Rígido era o sol oeste para o frio, a lareira e os visuais. Também para começar, uma certa quantidade de pedras para as massas de alvenarias inferiores, para a base “maneirista”. Nesta base onde inicialmente se pensava o serviço e dependências de empregados, localizou-se uma “cave” – estar, bar e TV – ligada ao quarto de hóspedes. O plano superior, com um grande salão e alto pé direito, tem a lareira centrada e em sua volta, panos de vidro que nos levam à vegetação exterior. Refeições, cozinha e serviço à esquerda e o quarto do casal com solário e escritório à direita.
As paredes duplas de alvenaria trazem para dentro o desenho do tijolo maciço usado em todo o exterior. Alguns panos rebocados quebram este ritmo aqui e acolá. Cantos escuros e claros dão a tônica da conversa.
Exteriormente, uma grande fachada quase cega para a rua que acontece lá em cima e é acessada através de uma arquibancada circular que junto a um toldo de vidro anunciam a porta principal.
Alguns ângulos desta alvenaria são suavizados por nichos e pilastras azuis, reafirmando a simetria. Dois longos telhados separados por um rebaixo na cumeeira completam a forte e simples volumetria.
Posteriormente, um grande terraço circular, cobertura do bar/estar inferior, recebe o sol oeste nas tardes frias que são muitas. Dali quase se toca as árvores, começo da mata e barulho do riacho que se desce à pé. Dá prá morar. Publicada no livro “3 Arquitetos”, volume II.
Esta casa tem uma história toda particular e se inicia quando os proprietários, acertado o condomínio onde queriam morar, passaram o resolver a localização do lote.
O entorno de Belo Horizonte é constituído de belas paisagens mas com uma topografia bastante acentuada – montanhas – e esta era a principal dúvida: para um os píncaros dos montes, vegetação rasteira e vista longa; para o meio da mata, junto ao córrego, abaixo da rua. Pelo projeto e fotos a segunda opção, depois de muita discussão, foi a vencedora.
Uma outra questão foi escolher os arquitetos; Éolo e Sylvio? Mas e aquela arquitetura meio estranha, muito colorida? Primeira tentativa, em um trabalho a quatro mãos, fiasco total. Segunda tentativa, agora apenas um arquiteto e algumas colocações mais consistentes dos proprietários, menos dúvidas e um programa bastante específico, uma casa para um casal sem filhos e vida social bastante intensa, poucas divisões, etc.
Uma grande sala, pool para lareira, um grande quarto com solarium, cozinha e serviço. Inicialmente um serviço na parte inferior e que, na construção, em pedras, foi se apresentando como uma cave, bastante apropriado para o lugar e a primeira mutação: um pequeno serviço anexo à cozinha e um grande bar com um apartamento para hóspedes no nível inferior. O bar do estar se desloca para a cave como também descem os bons vinhos da adega particular do casal.
Segunda grande mudança: desaparece o mezanino sobre o estar e a varanda contígua sobre o terraço inferior e semi circular – opção também feita no decorrer da obra, quando os proprietários descobrem a generosidade do pé-direito central, formada pelas cumeeiras das águas do telhado. Uma opção que se mostrou correta e, com a inversão do bar e hóspedes para o nível inferior, não havia mais necessidade desta área.
A implantação foi mais ou menos sugerida pela área de menor densidade de árvores no terreno, a três metros abaixo do nível da rua. Pelo ponto mais alto se fez o acesso de carros que estacionavam em um pátio de pedra São Tomé e localizado a quase dois metros acima do nível principal da casa. No desnível direito do terreno, mais acentuado, localizou-se hóspedes e bar. Platôs gramados ou revestidos de tijolo requeimado suavemente conduzem à margem do córrego.
O acesso principal, pelo eixo central da casa, é feito por uma escadaria circular – um meio cone – como uma arquibancada e os degraus se desdobrando em dois para cada lance desta estrutura. Ela serve como contenção do barranco entre a rua e o terreno, sendo que os taludes laterais recebem um exuberante paisagismo com árvores, arbustos, trepadeiras e forrações bastante floridas.
A construção, na sua elevação para a rua, é praticamente um muro de tijolos com pequenas aberturas, resguardando a intimidade do interior e, tem sua retícula homogênea interrompida pelo assentamento diferenciado dos tijolos e pela inserção de duas colunas azuis – única concessão à cor – nas quinas centrais próximas ao acesso principal.
Posteriormente a casa se abre toda para a mata, com grandes janelas e portas na sua parte superior e aberturas mais contidas no “porão”, que em pedra, sugere uma visão maneirista. A inserção do volume circular, do grande chaminé externo, aberturas e solarium dão a esta elevação uma dinâmica completamente contrária à principal o que não poderia ser de outra forma.
Mas é uma casa particular como já disse. Nasce uma filha, a Sofia. Amplia-se o pequeno quarto anexo ao do casal incorporando o solarium. Mas se é para reformar, aproveita-se para anexar uma varanda ao quarto do casal; transfere-se o serviço e as dependências de empregados para a parte inferior do estacionamento; transforma-se o antigo quarto de empregada em escritório e aproveita-se para realizar um sonho antigo: uma bay window – aqui estilizada, é aberta no escritório e, finalmente cobre-se o estacionamento com uma cobertura leve, em madeira e policarbonato, com uma preocupação de não parecer um “puxado”, mas um elemento que venha somar às qualidades do volume principal.
A casa é redecorada, volta a ser receptiva como sempre foi. Mas e se for necessário, recomeça-se.