Local: Bairro Novo São Lucas, Belo Horizonte, MG.
Projeto: 1996
Área terreno: 360,00m2
Área: 400,00m2
Este é um projeto com características particulares, uma vez que o proprietário sofria de grave deficiência visual. Seu programa incorporou espaços que permitissem fácil circulação e uso dos equipamentos além de uma capela.
Para a capela, com acesso independente de pessoas que não participariam necessariamente do convívio da casa, nos reportamos às antigas fazendas mineiras, onde o equipamento era contíguo à varanda principal ou acessado através dela; no projeto, um hall com duplo pé-direito faz a triagem para a entrada da capela, entrada principal e espera do escritório.
Quanto à primeira questão, o maior problema encontrado foi a exiguidade do terreno, sua forte topografia em declive e um extenso programa. Impossível não trabalhar em níveis e, aproveitando a topografia, localizamos garagem (que se estendia até dependências de empregada/serviços, também acessado pelo deck da piscina), junto à churrasqueira; na parte superior, uma ponte do passeio conduz ao hall junto à capela e se estende por todo o corpo da casa, como um eixo lateral, até a varanda da piscina. O eixo cria uma primeira ordem linear, facilitadora deste percurso principal; dele deriva-se para os diversos ambientes de estar/refeições, por um lado, e acesso à cozinha e circulação vertical, pelo outro. Neste jogo de níveis, compatíveis com a legislação (máximo 5m na divisa) e com a topografia, a cozinha se localiza um pouco abaixo do estar/refeições permitindo que, sobre ela, se localize a suite do casal, com acesso reduzido e através de um patamar intermediário. A continuação da escada leva aos demais quartos e estar íntimo.
Mesmo com os níveis resolvidos, os percursos ainda não eram os ideais para alguém com deficiência visual mas, por outro lado, inevitáveis. Em decisão conjunta, e confiantes na grande facilidade de adaptação do proprietário às mais diversas e adversas condições, optamos por criar “códigos” arquitetônicos, como aspereza nos pisos e guarda-corpos, localizando-os em pontos pré-determinados e redimensionando os degraus das escadas dentre outras óbvias, como equipamentos de banheiros.
O proprietário, além de trabalhar com publicidade em Minas e na Amazônia, também negociava com madeiras, e é com elas que desenhamos a casa. Foram utilizadas nas esquadrias, como brises na fachada frontal, nas grandes varandas posteriores plugadas na massa principal de alvenarias, formando uma grande grelha onde alternam pisos, guarda corpos transparentes e pérgolas. O telhado, formado por uma longa meia água, foi “sombreado” por uma pérgola que se apoia em empenas semi-curvas, resultando em um bonito desenho além de oferecer proteção contra o sol norte.
A proprietária nos auxiliou na capela: um tronco de cone, revestido externamente de pastilhas de vidro azul, com o interior folheado a ouro, recebe uma suave luz zenital/celestial; no altar, a estatuária do santo de devoção graciosamente esculpida em madeira.
Por problemas diversos, os planos da família se modificaram, mas fica aqui uma agradável sensação de que a arquitetura pode tentar amenizar situações adversas como esta, desde que conte com a pronta e decidida capacidade das pessoas caminharem sempre em frente.