Local: Bairro Campestre, Rio Verde, GO.
Projeto: 1984
Construção: 1984/85
Área terreno: 900,00m2
Área: 450,00m2
Pensar novos pontos de vista, novos fluxos e espaços: este o desafio que se propunha no projeto.
Mas, para vencer o desafio, era necessário o apoio daqueles que vivem dentro da cultura do lugar.
É o que aconteceu com Paulo e Elba.
A tradição do lugar manda que, em toda residência de porte médio, se crie um ponto de encontro incorporado ao quintal da casa na verdade um barracão onde se toma a cervejinha no fim da tarde e se come o churrasco no fim de semana.
A tradição permanece, o que muda é a forma.
Criamos um só corpo: levamos o barracão para dentro de casa. Com transparências, fizemos este lazer participar íntima e coletivamente da família.
Outra interferência no “modus vivendi” local foi transformar o antigo quintal em grande área ajardinada na parte fronteiriça da casa.
Isso, curiosamente, gerou controvérsias. Como acontece com os mineiros (só os mineiros?), a fachada, entre os goianos (só os goianos?) ainda retrata a condição social do proprietário da casa.
Por isso, ela deve ser sempre (bem) vista.
Essas duas condições básicas e as cores vivas adotadas, contrapostas aos ipês brancos árvores de belas floração anual, não são apenas provocações gratuitas a um contexto preestabelecido.
Afinal, não acreditamos ser este contexto tão arraigado ao ponto de estabelecer um parâmetro generalizado para uma população que é, hoje, formada pela interação de gerações de antigas famílias com novos colonos e trabalhadores de todo o Brasil.
Representam estas modificações, isto sim, a adoção, por estas mesmas pessoas, de uma linguagem de arquitetura que tantas discussões e controvérsias tem gerado nos grandes centro exatamente pelos autoproclamados baluartes da cultura nacional.
Donde se conclui que a questão não é a de se morar nas cidades ditas irradiadoras mas de se ter na cabeça, onde quer se viva, a disposição de ir em frente, rever posturas, construir uma nova cultura. (“3 Arquitetos”, volume II.)
Como em outras residências, um grande eixo conduz a um pórtico entrada principal, ponto focal e mais elevado da casa que termina em um hall central, divisor de setores funcionais do projeto, ou seja: no nível inferior, reserva o lado esquerdo para refeições, serviços e garagem e o direito para o social, que se estende até o lazer. Posterior a este hall, a circulação vertical conduz ao nível superior e íntimo, com suite do casal, quarto do menino e estudo, por um lado; um banheiro comum e central; quarto do menino e suite da menina localizados à direita. Vazios e pequenas varandas/balcões completam a volumetria.
A luz do sol goiano (já alertamos sobre isso) tem forte luminosidade; assim, na casa, seu controle quando leste foi feito com a criação de duas grandes placas frontais, simétricas ao pórtico principal; e, em escala inferior, com dois quartos de círculo funcionando como grandes brises fixos ou melhor, como platibandas, que além de proteção dão forma ao conjunto. Mais uma vez a platibanda é retomada, ao mesmo tempo em que telhado de “duas águas” e telha de barro são utilizados não como arremedo de telhado colonial mas elemento auxiliar na formação dos planos que respondem pela volumetria final da casa. Para o sol oeste, praticamente se eliminam as aberturas, excetuando as inferiores que se abrem para o jardim.
A grelha vermelha, que em parte participa da composição do hall, extrapola sua função de abrigar a entrada e, virtualmente (ou seja, em arestas de cubo) compõem uma volumetria vazada que ultrapassa as cumeeiras, fortalecendo o eixo desta simetria e diferenciando a construção de todas do lugar, como desejávamos e também os proprietários.
Um fragmento deste grande pórtico é reproduzido no portão de entrada, anunciando a sua existência e consagrando o local de acesso dentro do perímetro do grande muro monocromático. As entradas de garagens e de serviço, de importância secundária, são portas metálicas vazadas no muro.
Curiosidade: sendo o terreno de esquina, local de perspectiva máxima dos projetos urbanos de arquitetura, quando optamos pelo afastamento da casa ela perde esta característica de esquina; nossa homenagem à condição é uma pequena variação em zig-zag feita no muro.
Vale lembrar também que, como nas casas Hélio/Joana e Ricardo/Sheila, aqui seu posicionamento estabelece funções ao terreno remanescente: ao fundo, jardins para refeições, estar e biblioteca e uma pequena área fechada para serviço e varal. Na parte fronteiriça e dividida por um piso/passarela, temos à esquerda um pátio gramado onde são possíveis várias atividades (festas, jogos de bola, banho de sol); pelo outro, a piscina com deck e jardim. Posteriormente foi anexada uma coberta em parte do deck, ampliando a área de sombra do bar anexo. A necessidade da ampliação foi o aumento da frequência das festas no local e também por ter sido, entre as quatro casas, a primeira a ser construída.