Sylvio E. de Podestá
Além dos espaços, que podem estar contidos completamente por paredes, pisos e tetos, ou parcialmente por varandas, pérgolas, terraços etc., a arquitetura vive principalmente da luz ou das formas como a luz participa do espaço, contida ou exuberante, elegendo a função do ambiente através da sua maneira de participar.
No princípio, era apenas a luz natural, que logo foi domada pelo homem através das aberturas. Mais adiante e de maneira mais significativa ainda ela se transformou em visão celestial, com os vitrais fazendo as vezes da presença divina como dizem as catedrais, principalmente as góticas.
Mas o homem não parou por aí: descobriu o fogo, dominou suas labaredas para o cozimento e para a luz e por ela foi conduzido pelas trevas. Também com ela o homem perdeu o medo da noite e a fez mais permanente, com combustíveis fósseis. Lamparinas e lampiões ainda fazem parte do nosso imaginário, quando não do cotidiano.
Tempos depois veio o vapor, em seguida a eletricidade. As cidades passam a conviver com a iluminação de suas ruas, casas, onde em seus iluminados cômodos o homem participa da grande festa da noite, dos bailes, dos bares, dos shows, de uma nova vida.
No caminhar do desenvolvimento, aparecem novas formas de se usar a iluminação, leva-se para dentro de casa a possibilidade do teatral, do foco localizado, dos efeitos diversos e dos diversos tipos de luzes e luminárias. A iluminação passa a ter vida própria, complementar do grande espetáculo que é a arquitetura. Cria-se um novo profissional, o light designer, o engenheiro ou arquiteto luminotécnico talvez herança do teatro, que já o havia descoberto desde o tempo dos candeeiros e lampiões.
Desenhos e mais desenhos de luminárias e, como em outras áreas, levam o homem ao culto, à admiração pelos seus efeitos e pela sua estética – o abat jour, ou abajur já não é mais a peça dominante da sala. Pipocam lojas especializadas e os ambientes, como no gótico, redescobrem a importância da luz.
Porém, é importante lembrar: se a arquitetura não estiver convenientemente preparada para recebê-la, com qualidades que permitam seu melhor desempenho, não há light designer que faça essa mágica.